O Caminhão

Fazendo Caminho ao andaR

Escolhemos cruzar o Brasil com um caminhão 100% elétrico para testar, na prática, os limites e as possibilidades da transição energética no transporte de cargas.

A Caravana do Futuro percorreu o Brasil com um caminhão 100% elétrico para testar, na vida real, se a eletrificação é uma alternativa viável ao diesel, enfrentando sol, chuva, ladeiras e a distância entre um ponto de recarga e outro.

Foi um experimento inédito: uma forma de transformar discurso em prática e gerar dados concretos sobre o que significa mover o país com energia limpa.

O primeiro caminhão 100% elétrico de carga pesada a cruzar o Brasil.

Nosso companheiro de viagem foi um caminhão elétrico de 20 toneladas, composto por um cavalo mecânico e uma carreta de 15 metros de comprimento. O cavalo mecânico, um XCMG E7-49T, era equipado com motor de cerca de 480 cavalos e baterias de 250 kWh, capazes de rodar até 150 km por carga.

O veículo tem tração 6×4 e sistema de frenagem regenerativa, que reaproveita parte da energia nas desacelerações. É um gigante silencioso, sem fumaça, sem ruído e com muito torque.

Com ele, testamos desempenho, consumo e infraestrutura de recarga em diferentes realidades do território brasileiro.

Ao longo de 102 dias de estrada, cruzamos o país do Sul até o Nordeste.

Os números desta jornada ajudam a dimensionar o que isso significa:

km percorridos
0
kWh de energia consumida
0
litros de diesel para percorrer percurso equivalente
0
toneladas de emissões de CO₂ evitadas*
0

Nossos principais aprendizados

Podemos dar um spoiler?

Não foi um passeio.

Mesmo com baixa autonomia, o caminhão se mostrou robusto.

Rodou mais de 6.000 km em diferentes condições de estrada, clima e relevo, mas a realidade da infraestrutura brasileira impôs seus limites: falta padronização, informação e suporte.

A Caravana precisou se adaptar a cada trecho, da falta de eletropostos por quilômetros e mais quilômetros a potências irregulares, sistemas de pagamento diferentes, aplicativos diversos, cabos curtos e coberturas baixas que impediam o acesso do veículo para recarga.

Foram 91 recargas ao longo do trajeto, realizadas em eletropostos de 16 empresas diferentes, além dos diversos parceiros pelo caminho, muitas vezes exigindo criatividade, paciência e apoio de comerciantes locais para seguir viagem.

A infraestrutura ainda é o elo frágil da eletrificação

Nosso maior desafio não foi com o caminhão, mas com a infraestrutura de recarga e da rede elétrica. 

Os eletropostos estão concentrados no Sul e Sudeste, e praticamente desaparecem no Nordeste.Do Rio de Janeiro em diante, apenas 15% das recargas foram feitas em eletropostos com estruturas adequadas. O restante exigiu ligações improvisadas, com um transformador e um carregador portáteis, em instalações precárias, algumas vezes com cabos superaquecendo, disjuntores antigos e tensão irregular.

O tempo médio de recarga variou de 2 a 10 horas, dependendo das condições locais.

Em muitos casos, o caminhão ficava o dia inteiro parado apenas para carregar, um cenário que tornaria inviável, hoje, a operação profissional de transporte de cargas em longa distância com veículo elétrico de grande porte.

A eletrificação é possível, mas ainda desigual

A travessia confirmou o potencial da eletrificação como alternativa real ao diesel. Mas também deixou claro que ela não é igualmente acessível em todo o território brasileiro.

Enquanto o Sul e o Sudeste têm infraestrutura emergente, o interior e o Nordeste seguem praticamente fora do mapa da recarga. Sem planejamento público e investimento coordenado, a eletrificação de veículos de carga corre o risco de reproduzir desigualdades regionais, o que contraria o próprio princípio de uma transição justa.

Eficiência energética e impacto ambiental

Mesmo diante das dificuldades, alguns resultados técnicos são positivos:

O caminhão elétrico percorreu 1 km consumindo 1,06 kWh, enquanto um caminhão a diesel consome o equivalente a 3,94 kWh por km**. A economia de energia e o silêncio da operação confirmam que a eficiência dos caminhões elétricos é real. Em escala nacional, a transição dos caminhões a diesel para veículos elétricos poderia representar uma economia de R$ 5 bilhões em saúde e meio ambiente até 2050. (Fonte: Gigantes Elétricos).

A transição é também social e econômica

A eletrificação não é apenas uma questão tecnológica.

Para ser justa, ela precisa incluir trabalhadores e trabalhadoras, garantir requalificação profissional, boas condições de trabalho e novas oportunidades. Ela precisa também respeitar os direitos e territórios de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

O Brasil tem uma matriz elétrica limpa e uma base industrial potente, e pode liderar essa mudança se investir em infraestrutura, formação e políticas públicas integradas.

Cada quilômetro da Caravana provou que o futuro do transporte não se trata apenas do tipo de combustível que move o veículo, mas de pessoas, planejamento e cooperação.

Baixe o relatório dos 100 dias na estrada

A Caravana do Futuro cruzou o Brasil e mapeou seus gargalos e seus potenciais.

O caminho para a eletrificação do transporte pesado passa por investimentos na rede elétrica e na infraestrutura de recarga, integração de sistemas e políticas de incentivo.

Essa estrada foi uma escola. E os dados que ela nos deixou são o ponto de partida para acelerar o passo rumo a um Brasil mais limpo, eficiente e justo.

Nossa equipe de campo

Essa jornada não teria acontecido sem o trabalho e dedicação de nossa equipe de campo, que percorreu milhares de quilômetros e viveu muitos desafios pra gente poder agora compartilhar todos os aprendizados.

*O cálculo considera um rendimento de 2,5 km/l de diesel, o que daria um total de 2.423 litros, para percorrer a mesma distância. Para o cálculo de emissão de CO₂, foi utilizado o parâmetro de 2,68 kg CO₂/l. Esse valor é amplamente usado e deriva do conteúdo de carbono do diesel e da estequiometria da combustão. Fonte: https://portalantigo.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/TDs/td_1606.pdf.

**Calculado a partir de consumo rodoviário e fator de conversão Diesel fornecido por Ministério de Minas e Energia. Disponível em: https://www.mme.gov.br/SIEBRASIL/App_Content_User/archivos-publicos/nz3ggqk0.mrp20180831000000.pdf (acesso em 7.nov.2025).